quinta-feira, abril 27, 2017

Chornobyl em documentos secretos do KGB

O informe do agente do KGB "Garcia", 3/02/1987
Hoje publicamos uma série de documentos originais dos arquivos do KGB da Ucrânia Soviética que recentemente foram tornados públicos e que podem explicar melhor as causas e consequências da catástrofe.

Em 2015, o Parlamento ucraniano aprovou a lei “Sobre o Acesso aos Arquivos de Agências Repressivas do Regime Comunista Totalitário de 1917-1991”, que abre ao público os documentos da Cheka, NKVD e KGB, atualmente nos arquivos da Ucrânia, incluindo os documentos até recentemente classificados. Os arquivos centrais e regionais do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) que contêm mais de 900.000 volumes de documentos do período soviético em breve serão entregues ao Instituto Ucraniano de Memória Nacional.

Consoante os documentos são estudados, eles gradualmente são digitalizados, e atualmente publicados na página do Centro Ucraniano de Estudo do Movimento de Libertação (http://avr.org.ua). Para marcar o 30º aniversário do acidente de Chornobyl, o Centro publicou 32 documentos classificados do KGB da Ucrânia Soviética (ver o arquivo completo) sobre as causas e consequências do acidente do Chornobyl, bem como sobre o esforço soviético de ocultar as informações relacionadas ao acidente. A página Bird in Flight (link deixou de funcionar hoje!) escolheu os documentos mais interessantes.

Oito anos antes do acidente, as fontes do KGB entre as pessoas que participaram na construção da central nuclear de Chornobyl relataram a qualidade insatisfatória dos trabalhos de construção e instalação, o que poderia levar à “destruição dos objetos construídos e contaminação radioativa do ambiente”.

Dois anos antes da explosão, os colegas de Moscovo informaram o KGB da Ucrânia Soviética sobre uma opinião generalizada entre os profissionais nucleares na capital de que os reatores instalados na central nuclear de Chornobyl têm deficiências estruturais que “podem se tornar uma causa de um acidente grave”.

O nível de radiação de um carro que chegou a uma aldeia na região Kyiv, vindo da cidade de Prypiat no dia seguinte após o acidente (27/04/1986) apresenta os níveis de radiação 5000 vezes (!) superiores aos níveis normais antes da explosão.

As informações comunicadas através de um canal de comunicação criptografado do local do acidente seis dias (1/05/1986) após a explosão descrevem os níveis reais de radiação, o processo de evacuação de cidadãos locais e os primeiros passos para investigar as razões do acidente.

Duas semanas após o acidente (6/05/1986), o oficial não identificado do KGB da Ucrânia relata a situação nos locais de evacuação, o sentimento do povo, a situação nos centros de transporte e nos principais locais industriais em Kiev, bem como as medidas tomadas para impedir os jornalistas estrangeiros de fazer o seu trabalho, colhendo as informações sobre a catástrofe.

Era 1986, os efeitos da Perestroika estavam surgindo, o que permitiu que muitos ucranianos que expressaram as suas opiniões bastante ásperas sobre acidente de Chornobyl evitassem as consequências graves. O documento mostra que a obtenção de informações à partir de conversas privadas era uma prática padrão do KGB na época.

As evidências incríveis dos métodos que o KGB empregou para impedir os jornalistas (Steven Strasser da “Newsweek”) e cientistas estrangeiros de obterem as informações sobre a escala real do acidente nuclear de Chornobyl.
O jornalista Steven Strasser em 1999
A capa da revista "Newsweek" de 12 de maio de 1986
Para “impedir a recolha da informação caluniosa”, KGB da Ucrânia efetuou uma série de ações com a participação dos 8 ex-oficiais do KGB na reforma; mais 19 membros do grupo especial de milicianos, entre eles 7 (!) fontes; mais um agente especial “Rota”. Em resultado das medidas tomadas, “o estrangeiro não recebeu dos cidadãos soviéticos a informação tendenciosa. Se conseguiu limitar os contactos do Strasser às nossas fontes”.
Em 2-4 de junho de 1986 em conjunto com a 5ª, 6ª Direções do KGB da Ucrânia “foi efetuado um complexo de ações de agentes e operativas em relação aos Dr. [Robert Peter] Gale (EUA)”. O KGB foi informado pelo agente “Richard” (algum médico ou cientista) “usado nas posições oficiais” que “da parte do americano foi mostrado o interesse em saber o número dos doentes [atingidos] pela radiação, evacuados de Chornobyl e Pripyat, obtenção de dados estatísticos relacionados com as consequências do acidente”.  
Dr. Robert Peter Gale
E, finalmente, provavelmente o documento mais repugnante de todos publicados. O documento mostra que não só as causas e as consequências do acidente de Chornobyl foram classificadas de secretas, mas também os métodos de luta contra as doenças relacionadas, que poderiam ter sido úteis para outros países e para os pacientes, assim como as informações sobre a contaminação de produtos alimentares, o que foi importante para os cidadãos ucranianos.

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