quinta-feira, março 23, 2017

O assassinato com assinatura do FSB em Kyiv

No centro de Kyiv hoje foi assassinado o ex-deputado da Duma estatal russa, Denis Voronenkov, ex-deputado comunista, que em 2016 emigrou, com a sua esposa, para Ucrânia, onde recebeu a cidadania ucraniana e testemunhou, em juízo, contra o ex-presidente ucraniano Victor Yanukovych.
Como contou à agência Censor.net o chefe da Polícia Nacional de Kyiv, Andriy Krishenko, o assassinato se deu em seguintes modos:
O guarda-costas do Voronenkov, ferido, caminha, ajudado pela polícia
Voronenkov se dirigia à um encontro com ex-deputado da Duma estatal russa, Ilya Ponomariov [único deputado da Duma que em 2014 votou contra anexação da Crimeia pela Rússia]. Quando Voronenkov estava próximo ao hotel Premier-Palace, o assassino aproximou-se bruscamente e abriu o fogo à queima-roupa, usando a pistola TT [ilegal]. Voronenkov foi atingido por cinco vezes, no torax, barriga e pescoço. O seu guarda-costas [oficial da inteligência militar ucraniana GURtambém foi ferido, mas conseguiu ferir o atacante que foi detido. O guarda-costas e assassino foram transportados para o hospital, onde se encontram sob as medidas de proteção. A identidade do assassino está sendo apurada. Neste momento a versão principal de investigação é que o assassinato foi organizado pelos serviços secretos da federação russa (fonte).
O ex-deputado da Duma estatal, Denis Voronenkov, colocado na lista de procurados na Rússia, foi uma importante testemunha no processo de traição estatal contra o ex-presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych.

Denis Voronenkov percebia o alto nível de ameaça à sua segurança pessoal, mas tinha decidido ir até o fim. Sendo a pessoa bastante rica, ele poderia estar em qualquer país do mundo, mas escolheu estar na Ucrânia. Ele concedia diversas entrevistas, se preparava aos quais sem ajuda do serviço de imprensa, fazia tudo sozinho. Deputado comunista, agente e depois chefe do departamento do Serviço Federal de Controlo de Drogas (FSKN), Voronenkov optou por uma profunda mudança, decidindo mudar toda a sua vida. Parte dos atual sistema putinista, responsável pela colocação dos agentes antidroga nos órgãos de aplicação da lei da federação russa, ele sabia demais sobre o sistema de poder russo.

Na Rússia gritam que é necessário trocar me pelo [jornalista Roman] Sushchenko, e se não acontecer – matar, tal como Bandera”.
O assassino do Voronenkov mortalmente ferido, faleceu no hospital
No momento de deixar Rússia, não existiu nenhum processo criminal contra Voronenkov. O processo foi aberto no dia seguinte após a publicação de uma entrevista na página Censor.net em que o deputado fez várias acusações contra Putin e o seu regime. “A situação na Rússia é como na Alemanha nazi. Eu não quero viver em mentiras e hipocrisia. Eu me tornei um cidadão da Ucrânia e me orgulhoso disso”, tinha dito o ex-deputado na entrevista ao Censor.net.ua. Voronenkov entrou em conflito aberto com o sistema de Putin, não sendo anteriormente o seu inimigo aberto ou mesmo oponente.

«Percebam, o poder tentou colocar todos nessa merda. A decisão de anexação [da Crimeia] foi tomada por uma única pessoa. Todas as pessoas normais eram contra. Incluindo o seu círculo íntimo», – disse Voronenkov na entrevista à TV ucraniana Hromadske.ua 

Ligado desde sempre aos órgãos do Exército, Procuradoria, Ministério do Interior e FSKN, Voronenkov entendia perfeitamente os riscos que corria, respondendo que fez a sua escolha e que todas as ameaças e pressão apenas reforçam a sua decisão de continuar os protestos contra Putin.

Na Ucrânia ele usava um telemóvel, mas falava apenas, usando o programa “watsup”, estava presente no Facebook. Em Kyiv, Voronenkov pretendia entrar no serviço civil, pensando se tornar o funcionário ordinário do Conselho Nacional da Defesa e Segurança da Ucrânia, como um especialista em Rússia. Nessa qualidade poderia trazer uma série de benefícios à Ucrânia. Não mostrava nenhuma ambição política, não parecia que pretendia fazer a carreira política.

Morreu como cidadão da Ucrânia, foi morto como o inimigo de Putin, e seu assassinato, pode ser colocado em pé de igualdade com o assassinato em Kyiv do jornalista Pavel Sheremet, ocorrido em julho de 2016, escreve Yuriy Butusov.

O homem que sabia demais
Denis Voronenkov (1º à esquerda), sua esposa, cantora de ópera Maria Maksakova (depurada do partido do poder "Rússia Unida") e o ex-chefe da Duma estatal, Sergey Naryshkin
A imprensa russa veicula a informação de que Voronenkov preparou a sua emigração à Ucrânia, com bastante antecedência, gravando várias conversas suas com altos funcionários russos, e aqueles que supervisionaram a política russa em relação à Ucrânia.

Voronenkov testemunhou perante o Gabinete do Procurador-Geral da Ucrânia no caso do ex-presidente Viktor Yanukovych. Ele disse aos investigadores que Yanukovych escreveu uma carta a Vladimir Putin com um pedido de invadir militarmente Ucrânia. As acusações de traição estatal contra Yanukovych, podem, parcialmente, se basear no depoimento do Voronenkov.

Em 2005, após se tornar o agente não oficial permanente do FSKN, Voronenkov participou nas investigações do processo de «Três baleias» de contrabando de mobílias. O processo resultou em uma guerra sem quartel entre os serviços secretos russos, levando ao despedimento de 16 oficiais do FSB. Desde, aquela data, como contava Voronenkov, ele se tornou o inimigo do FSB. Acusado de ser um lobista [atividade não regulamentada na Rússia], o próprio Voronenkov explicava que o seu maior inimigo é ex-general do FSB Oleg Feoktistov. Além disso, Denis Voronenkov sempre dizia que o processo criminal movido contra si (“fraude no mercado imóvel moscovita”) estava ligado à luta entre FSB e FSKN. 

É de notar que em 2014 Voronenkov votou a favor da anexação da Crimeia “por medo pela sua família” e que os deputados da Duma receberam as ordens coercivas de apoiar a decisão do Putin: “quem não votar, não será eleito à Duma” (fonte). 

Sem comentários: