sábado, março 11, 2017

Agentes e dinheiro russo na Polónia contra Ucrânia

O agente de influência russa, Alexander Usovsky, recebeu a “bolsa” russa de 100.000 € para financiar os grupos anti-ucranianos na Polónia, Eslováquia e Hungria. A informação ficou exposta graças ao trabalho dos hackers ucranianos de CyberHunta e Cyber Alliance e mereceu o destaque num dos principais jornais polacos Gazeta Wyborcza.
Os hackers ucranianos da CyberHunta e Cyber Alliance acederam ao e-mail do Usovsky e puderam verificar a sua correspondência com os responsáveis russos e os radicais polacos. Os dados divulgados são as primeiras provas concretas que Rússia organiza na Polónia as ações anti-ucranianas e os seus aliados, tal como na Europa Ocidental, são os radicais de direita. Nomeadamente, Alexander Usovsky se correspondia com o deputado da Duma estatal pelo partido governamental “Rússia Unida” e diretor do Instituto dos Países da CEI, Konstantin Zatulin. Usovsky assegurava-lhe que podia não apenas disseminar a propaganda pró-russa, mas também efetivamente plantar a “inimizade entre Polónia e Ucrânia”. O próprio Zatulin confirmou à Gazeta Wyborcza que contatava com Usovsky, mas insiste que não lhe pagou nenhum dinheiro. O jornal polaco observa que o oficial russo até pode dizer a verdade. Os dados revelados pelos hackers ucranianos permitem perceber que Usovsky desde 2014 foi pago pelas pessoas próximas do oligarca russo Konstantin Malofeev, conhecido pelos seus financiamentos de confrontos na Crimeia, na primavera de 2014, bem como os terroristas no leste da Ucrânia.
Gazeta Wyborcza escreve que pessoal do Malofeev pagou ao Usovsky 100.000 €. Destes, 20.500 € ele imediatamente gastou na compra de uma viatura Geely Emgrand X7. Correspondência divulgada sugere que isso fazia parte do acordo com os russos. Outros 10.000 € Usovsky pagou à pessoa que foi o seu intermediário neste acordo e o resto foi usado para organizar uma série de ações radicais anti-ucranianas na Europa Central. Por exemplo, foram organizadas algumas manifestações na Polónia, com a participação de 100 pessoas. Estas ações, que também incluíram a organização de conferências de imprensa custaram 13.500 €.

Usovsky enviava constantemente à Moscovo os seus relatórios de despesas. A partir de um desses documentos, sabe-se que a 23 de agosto de 2014 ele organizou a manifestação em frente à embaixada da Ucrânia em Varsóvia. Na ação, sob o lema “Parar a agressão ucraniana no Donbas” participaram 70 pessoas. O pedido da ação pública foi feita em nome do partido “Samooborona”, que em 2006-2007 fazia parte da coligação no poder, juntamente com a “Lei e Justiça” (PiS). Em setembro de 2014 em Varsóvia, Lublin e Rzeszów, Usovsky financiou as manifestações anti-ucranianas com os slogans “Stop a guerra na Ucrânia! Stop os crimes dos banderistas!” Nestas ações participaram duas organizações nacionalistas polacas “Campo da Grande Polónia” e “Congresso Mundial de Crecy”. As manifestações foram realizadas em frente da Embaixada da Ucrânia, bem como junto ao edifício do parlamento polaco. Usovsky conseguiu a cobertura das suas ações na imprensa, também colocou os vários vídeos no YouTube. De mesma forma ele trabalhou na Hungria e na Eslováquia.

O jornal polaco escreve que Usovsky estava colaborado com um ex-skinhed e duginista polaco Mateusz Piskorski que fundou na Polónia o partido “Mudança”, abertamente pró-russo. Piskorski recebia o dinheiro russo através do Usovsky. Os dois discutiram as novas ações anti-ucranianas e a reação de Moscovo. Uma vez Usovsky até enviou ao Piskorski um vídeo no qual os terroristas pró-russos da Donbas agradecem lhe pelo apoio às actividades anti-ucranianas. Piskorski encontrou-se com Usovsky em 21 de outubro de 2014 em Moscovo. A sua próxima reunião deveria se realizar em maio de 2016, também em Moscovo, mas não teve lugar. Os serviços secretos polacos (ABW) prenderam Piskorski por espionagem à favor da Rússia e contra Polónia.

A correspondência revelada pelos hackers também mostra que um tal Wojciech Wojtulewicz (63), ex-funcionários dos serviços secretos comunistas, que colaborou de perto com as diversas organizações nacionalistas polacas recebeu do Usovsky 2.431 dólar e 430 €. Dois anos atrás Wojtulewicz foi detido pela polícia ucraniana quando se dirigia à aldeia de Guta Penyatska, onde pretendia organizar uma ação anti-ucraniana. No verão de 2016 ele fez o piquete da embaixada da Ucrânia em Varsóvia com a bandeira da assim chamada “novaróssia”. Além disso, no verão de 2014 Usovsky combinou com Wojtulewicz a destruição do monumento dos combatentes ucranianos do UPA, construído num dos cemitérios polacos em 1994. Por este “trabalhinho” Wojtulewicz recebeu 2.000 euros.

Tal como observa o jornalista sénior polaco Wacław Radziwinowicz, correspondente da Gazeta Wyborcza em Moscovo em 1997-2015, Rússia tenta se aproveitar das emoções anti-ucranianas na Polónia. Como notou o jornalista os sentimentos nacionalista e anti-ucraniano, reforçados pelo atual “sentimento falso de patriotismo” do governo polaco se torna o trunfo da Rússia.

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