terça-feira, março 21, 2017

A bandeira da Ucrânia como extremismo: a nova realidade moscovita

No dia 18 de março o estudante de pós-graduação da Universidade Estatal de Moscovo (MGU), Zakhar Sarapulov, foi detido pela polícia e espancado pelos desconhecidos. O “crime” do cidadão foi hastear a bandeira da Ucrânia no decorrer da manif patrioteira, dedicada, pelo regime russo, ao 3º aniversário de anschluss da Crimeia.
O jovem russo é estudante de pós-graduação da faculdade de História de MGU, ele vive no lar de estudantes da sua universidade. Como explica o jovem, já após o acidente, ele optou pela ação “apolítica”, usando a bandeira ucraniana, apenas para chamar à maior atenção das autoridades competentes às diversas problemas do seu lar.

Zakhar fez a bandeia com as suas próprias mãos, e a hasteou na janela do quarto, depois apareceu com a bandeira nas escadas do edifício, o que resultou na sua detenção pelos guardas da empresa privada de segurança, afeta à MGU (pela lei russa os guardas privadas não podem deter os cidadãos, apenas avisar a polícia).
A manif patrioteira, dedicada à anexação da Crimeia e a bandeira da Ucrânia
Entregue a polícia, estudante passou às mãos dos 5-6 pessoas, vestidas à civil, eventualmente os operativos do FSB, vistos pelos oposicionistas russos à monitorarem as manif da oposição e conhecidos pelos seus modos brutos de efetuar os interrogatórios.

O quarto do Zakhar Sarapulov foi revistado, foram aprendidos o seu portátil, telefone e câmara fotográfica. Ele foi obrigado à revelar a palavra passe, os desconhecidos foram verificar as suas fotos, ficheiros, correspondência particular.

Vendo as fotos de sua viagem ao Uzbequistão, Zakhar foi acusado de ser um “vahabita e muçulmano” e ameaçado de ser acusado de extremismo. Por causa das duas primas que vivem na Ucrânia, que o jovem visitou 4 anos atrás, ele foi acusado de ser “recrutado” pelos ucranianos.
   
Já dentro da esquadra de polícia, que se situa no edifício central do MGU, o jovem foi novamente acusado de ser um agente de “banderistas ucranianos”, sofreu os espancamentos aos pontapés, socos e golpes de uma vara na face, olhos, virilha...
A esquadra de polícia russa dentro de recinto da Universidade MGU
O que mais queriam saber os desconhecidos é a autoria moral da ação. Zakhar explicava que a sua ação era individual e apolítica, em troca levava mais golpes. No fim, o estudante recebeu a proposta: “ser preso, acusado de extremismo” ou assinar a declaração em que se comprometia de colaborar com os seus captores, visitando os locais por eles indicados, se tornando um delator.
  
Zakhar Sarapulov assinou a declaração, após disso foi multado, já pela polícia, acusado de infracção administrativa – “pequeno hooliganismo”. Foi lhe aplicada a multa de 500 rublos (8,6 dólares) por “abanar a bandeira e preferir os palavrões”. Quando Zakhar perguntou o major da polícia porque este não impediu o atropelo da lei, este lhe respondeu que os atacantes “tinham um patente superior e que ele não podia fazer nada”.

Após a detenção de cerca de 3h5 horas, o jovem foi libertado. No dia seguinte foi aos serviços médicos para registar diversas escoriações, contusões, arranhões, e pediu assistência jurídica ao Comité russo de prevenção da tortura (pytkam.net). Como explica Zakhar, ele decidiu contar tudo aos meios de comunicação para que os outros saibam que “não se deve permanecer em silêncio quando cidadão é pressionado desta maneira, é preciso não ter medo”.

A esquadra da polícia da Universidade MGU recusou-se de dar quaisquer comentários; o serviço de imprensa da polícia moscovita (Circunscrição ocidental) disse que “no caso agiram os operativos do FSB” e o porta-voz do FSB, Oleg Matveev afirmou que “não foi o nosso estilo de trabalhar”, escreve a página Meduza.

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