terça-feira, janeiro 03, 2017

The Man with the Poison Gun: a estória da espionagem da Guerra Fria

Em 1961, o assassino do KGB, Bohdan Stashynsky, fugiu para a Alemanha Federal. O agente confessou dois assassinatos sonantes: à mando do chefe do KGB Aleksandr Shelepin e com o provável conhecimento do Nikita Khrishov ele foi responsável pela morte dos dois líderes da resistência ucraniana na Diáspora: Lev Rebet e Stepan Bandera.
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A história da vida do Bohdan Stashynsky é o tema central do novo romance não ficcional do renomado historiador americano-ucraniano Serhii Plokhii – “The Man with the Poison Gun: a Cold War Spy Story”. O livro é um conto emocionante de ofício de espionagem soviética, completo com prendas explosivas, operações elaboradamente encenadas, agentes e traições duplos. Além disso, a história destes assassinatos se confunde com a história da Ucrânia. Mostrando como um inimigo cruel e implacável usa os ucranianos para cometer os crimes contra o seu próprio povo.   
Bogdan Stashinsky em 1962 foto @ULLSTEIN BILD/GETTY IMAGES
Após a fuga, Bohdan Stashynsky insistia em se entregar aos americanos. Três semanas depois, CIA decidiu que não confiava nele, o entregando ao BND alemão (num relatório de CIA datado de abril de 1974, o último no seu processo, a agência americana ainda não tinha a certeza se Stashinsky era fugitivo genuíno ou uma tentativa do KGB para implantar o seu homem no Ocidente).

Seguiu-se o julgamento mais publicitado de toda a Guerra Fria. A publicidade provocada pelo caso Stashinsky obrigou o KGB a mudar o seu modus operandi no exterior (parar, quase por completo com os assassinatos políticos) e ajudou a terminar a carreira de Aleksandr Shelepin, um dos líderes soviéticos mais ambiciosos e perigosos. O testemunho de Stashinsky, envolvendo os governantes do Kremlin em assassinatos políticos realizados no exterior, abalou o mundo da política internacional. A história de Stashinsky inspiraria os filmes, peças de teatro e livros, incluindo o último romance de James Bond de Ian Fleming, “The Man with the Golden Gun”.
Stashinsky (primeiro à esquerda) no seio da sua família
O livro também mostra a intensidade do fetichismo do KGB ao terror, aos engenhos secretos e aos venenos. Um fetiche à que o Politburo alocava os recursos quase ilimitados. Os ditadores soviéticos assinavam pessoalmente os projetos que lançavam venenos contra os “inimigos da pátria”, o hábito seguido pelo presidente Putin.

Os bolcheviques criaram o laboratório de venenos desde início do seu regime. Mas nos meados da década de 1950, possivelmente usando uma invenção alemã como ponto de partida, os cientistas do KGB estavam refinando o que Serhii Plokhy chama no seu romance de arma admirável, um engenho de dois canos que disparava ácido cianídrico. No caso do Rebet, a execução foi perfeita, os médicos alemães constataram a paragem cardíaca e a “morte natural”. No caso do Bandera algo correu mal, no último momento o líder ucraniano sentiu o perigo e desviou a cara, a mini-nuvem de ácido cianídrico não o atingiu em cheio...
Em 15 de outubro de 1962 Bohdan Stashynsky foi condenado à 8 anos da cadeia pesada, o seu caso foi último na jurisprudência alemã em que o autor do crime judicialmente punível («Tatnächste») era considerado apenas cúmplice («Beihilfe») e não o principal objeto do crime («Täter»).

Cumprindo 2/3 da sua pena, Stashynsky aparentemente foi libertado em dezembro de 1966 (informação avançada pela revista «Der Stern» № 8 de 23 de fevereiro de 1969) e juntamente (ou não) com a sua esposa alemã, Inge Pohl, após fazer a operação plástica e receber a nova identificação, se mudou para a África do Sul.

Em 6 de março de 1984, a agência americana de informação, UPI, citou o chefe da Política Sul-Africana general Mike C. W. Geldenhuys (1978-1983) que na entrevista ao jornal sul-africano “Rand Daily Mail” (de linha liberal e fechado em 1985) disse que Bogdan Stashinsky veio à Africa do Sul em 1968, imediatamente após a sua saída da prisão alemã.
Fomos abordados pelo Serviço de Segurança da Alemanha Ocidental e foi nos pedido para dar o asilo à este homem na África do Sul, porque eles estavam convencidos de que era o único país onde ele seria comparativamente a salvo de agentes do KGB. Ele forneceu ao nosso serviço de inteligência uma grande quantidade de informações valiosas sobre a estrutura e funcionamento dos serviços secretos russos [soviéticos], disse general Geldenhuys.

Segundo o general Geldenhuys, entrevistado pelo Serhii Plokhy para o seu livro telefonicamente, na RAS Bohdan Stashynsky casou-se pela segunda vez e viveu (vive) nos arredores de Durban (hoje ele teria cerca de 85-86 anos).

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