terça-feira, dezembro 20, 2016

Por que os “terroristas” turco e ucraniano mataram os diplomatas de Moscovo?

No dia 19 de dezembro de 2016, o turco Mevlüt Mert Altıntaş (22) abateu o embaixador russo na Turquia – A. Karlov; em 21 de outubro de 1933, o ucraniano Mykola Lemyk (18) abateu o cônsul da URSS na Polónia – A. Maylov, era o primeiro atentado da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) contra a União Soviética.

  
No verão de 1933, após a fuga para Polónia dos ucranianos que tentavam se salvar do Holodomor, os ucranianos da Polónia criaram o Comité de ajuda, recolheram um comboio de alimentos e tentaram o enviar à Ucrânia continental. As autoridades soviéticas recusaram essa ajuda – a propaganda comunista dizia que na Ucrânia não há fome. Milhões de pessoas morriam atrás da cortina de ferro, o mundo ignorava, sem ajuda, sem sanções, ninguém quis apoiar um território sem exército, nem estado...

Em 29 de outubro de 1933 os ucranianos de Galiza decidiram organizar o Dia de luto e protesto nacional em Lviv. O mundo mais uma vez não quis reparar, a URSS adquiria a diversa maquinaria pesada na Europa Ocidental e nos EUA, vendendo em troca as suas matérias primas baratas (incluindo o trigo ucraniano). Polónia também não desejava azedar as relações com o vizinho soviético.

Então, para que o mundo saiba da tragédia ucraniana, estudante ucraniano e membro da OUN, Mykola Lemyk, se voluntariou para liquidar o cônsul soviético em Lviv. Ele foi preparado pelo Roman Shukhevych e Stepan Bandera. O ativista ucraniano, jovem inteligente e modesto que nunca tinha disparado uma arma, recebeu a missão – liquidar o cônsul da URSS e não se deixar matar pela segurança do consulado, para não permitir à propaganda soviética retratar o caso como o crime comum. Lemyk devia se render à polícia polaca, e em tribunal aberto declarar os motivos de sua ação, falando sobre a tragédia do Holodomor na Ucrânia. De acordo com a lei polaca ele arriscava a pena de morte. Mykola Lemyk de forma consciente decidiu morrer pelos milhões de ucranianos desconhecidas, que morriam lá, além da Linha Curzon, onde ele nunca esteve...

Nas vésperas, quando os companheiros da OUN o perguntaram sobre algum desejo, Mykola Lemyk pediu as botas movas, ele não queria que no caso da morte os inimigos vejam os seus sapatos velhos e gastos, não queria dar o pretexto de rirem dos ucranianos.

No dia 21 de outubro de 1933 Mykola Lemyk entrou no consulado da URSS em Lviv e com as palavras: “Isso lhe da Organização dos Nacionalistas Ucranianos – pelas tormentos e a morte de nossos irmãos e irmãs, pala fome na Ucrânia, por todas as intimidações”, matou à tiro o secretário do consulado da URSS A. Maylov. Mykola Lemyk se entregou à polícia polaca, passou pelo julgamento, onde falou sobre os seus motivos e sobre Holodomor, escapou a pena capital, condenado à prisão perpétua.

No decorrer do julgamento se estabeleceu que Maylov era residente dos serviços externos da NKVD. O atentado transformou instantaneamente a OUN no inimigo mortal da URSS. A OUN começou a guerra organizada contra a União Soviética. Hoje em dia se sabe que Maylov era amigo próximo do terrorista soviético, coronel Pavel Sudoplatov, responsável pelo assassinato do líder da OUN Yevhen Konovalets, que se deu em 23 de maio de 1938 em Roterdão na Holanda.  

Após o início da II G.M., e com o fim momentâneo do estado polaco, Mykola Lemyk saiu em liberdade, se voluntariando para uma nova tarefa perigosa – a criação da rede de OUN no leste da Ucrânia – na cidade de Myrhorod. Em outubro de 1941 ele foi detido pela Gestapo e morreu às mãos de nazis.

No dia 19 de outubro de 2016, o polícia turco Mevlut Mert Altintas com as palavras: “Não esqueçam de Aleppo! Não esqueçam da Síria! Vocês não ficarão seguros até que nossas cidades tenham segurança. Somente a morte pode me levar daqui. Morremos em Aleppo, você vai morrer aqui”, abateu à tiro o embaixador russo na Turquia, Andrey Karlov.  
Foto @Burhan Ozbilici / AP
O assassino não esperou pelo tribunal – ele matou o embaixador em frente de múltiplas câmaras e os seus motivos imediatamente se tornaram conhecidos no mundo inteiro. Depois veio a polícia turca e matou à tiros o seu colega, que de repente decidiu se tornar um terrorista e vingar os massacres de civis em Aleppo, perpetuados pela força aérea e pelo exército russo...

Sim, o terrorismo é mau. Sempre deve ser condenado. Mas, ainda mais devemos condenar aqueles que matam milhares com as ordens de seus gabinetes, que obrigam as pessoas comuns pegar em armas e embarcar em um caminho de terror, porque as suas almas estão queimadas pela dor de seu povo, deixado lá apenas o desejo de vingança...

A propaganda russa chama os assassinatos em massa em Aleppo de “encenações” e “falsidades”, tal como a URSS negava Holodomor na Ucrânia, alegando inexistência de quaisquer problemas e de perdas de vidas em 1932-1933.
Foto @Burhan Ozbilici / AP
O presidente russo, Vladimir Putin, que manifestou o desejo de “descobrir quem enviou a mão do assassino”, pode facilmente descobrir “quem dirige as mãos de assassinos” – basta olhar no espelho. O sangue e terror estão sendo planeados no Kremlin.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que o mundo saiba a carnificina que o porco do Putin está fazendo... Criminoso, esse atirador? Talvez... Mártir e herói?? Com certeza!! Q Deus traga a justiça todos esses assassinos covardes

PJ disse...

Sábias palavras