domingo, maio 01, 2016

As crianças soldados, os retardados, FSB e ajuda humanitária ao Donbas

Como qualquer organização terrorista, a novoróssia bicéfala, que por vezes se divide em bandos “lnr” e “dnr”, precisa dos seus próprios mitos e dos seus heróis. Quando mais heróicos são estes heróis é melhor, o ideal é o uso e abuso das crianças.
Bohdana, a aluna normal de uma escola ucraniana
Em 2014-2015, o bando terrorista “Prizrak”, sediado na província de Luhansk e comandada pelo Aleksey Mozgovoy (com passado de cantor amador e cozinheiro), decidiu usar para a propaganda do grupo a menina Bohdana Nesheret, atualmente com 10 anos (!) de idade, natural da cidade de Alchevsk. O seu pai, Roman Nesheret, ex-polícia ucraniano e ex-guarda que traiu o juramento, se juntando ao mesmo grupo terrorista.  
Os pais da Bohdana
Um belo dia, Bohdana, alegadamente, escreveu a carte ao Mozgovoy (o terrorista costumava usar a fraseologia soviética, tornando-se pólo de atração aos esquerdistas estrangeiros que viajavam à Ucrânia para lutar contra “imperialismo americano”): Quero parabenizá-lo pelo Ano Novo próximo! Eu lhe ofereço o [...] mascote [...] eu o levei para a escola e trouxe as notas de cinco [igual às 17-20]. Eu te amo e estamos dizendo com as meninas “o tio Aleksey Mozgovoy é o mais poderoso e legal!

Depois foram os desenhos infantis, recepção das prendas dos terroristas, as fotos conjuntos com eles e com próprio Mozgovoy, a imagem da Bohdana foi usada para as cartazes e diversa outra propaganda terrorista em geral e do bando “Prizrak” em particular.
No dia 23 de maio de 2015 Mozgovoy foi liquidado pelos desconhecidos, os terroristas, como de costume, acusaram o “grupo de sabotagem ucraniano”, embora diversas fontes, incluindo dos separatistas apontavam a empresa militar privada russa “Vagner” de ser responsável direto pela execução do comandante separatista.

O assassinato elevou a histeria à volta da Bohdana à um novo nível, foram produzidos diversos cartazes onde a menina “lembrava-amava-lamantava”; no verão de 2015, aos 9 anos de idade, ela foi aceite, com a pompa e circunstância, no bando “Prizrak”, recebendo alcunha “Docha” (filha, em linguagem marginal russa) e um crachá sob o número 1793:
Na cerimónia de enterro do Mozgovoy, Bohdana “sentiu” o seu novo talento de escrever a poesia (o que nunca acontecia antes). Nos textos amadores ela exortava “mundo russo”, “grande vitória” e “morte em combate”; pedia aos cidadãos “russos e moscovitas” os “artigos de papelaria e biscoitos; livros e álbuns de exercícios, tintas, canetas e lápis; mais doces” e claro, maldizia a “junta”, os “valores da Europa” e pois claro, o “nazismo da Ucrânia”.    

As televisões russas usaram, ou talvez pura e simplesmente ajudaram à criar o caso, proclamando Bohdana de “jovem poetisa – o novo símbolo de Luhansk”. A menina até escreveu apelo às “mães ucranianas”, que não vão ter “de quem parir”. Embora olhando para o texto, teve várias dificuldades de lê-lo e ainda maiores para explicar o seu significado.
Depois veio à fama e Bohdana participava em quase todas as ações políticas dos grupos terroristas “lnr” e “dnr”, se fotografava com os terroristas, com os propagandistas pró-terroristas, incluindo britânico Graham Phillips, fazia as poses na linha da frente, no hospital, na campa do Mozgovoy.
Bohdana (no meio) e o propagandista britânico Graham Phillips 
Foi criada a página da Bohdana na rede social VK, onde eram postadas as suas fotos patéticas e onde a menina contava a sua difícil vida da “militante”:
Eu tenho aqui os meus deveres: eu estou ajudando aos nossos combatentes com aquilo que posso e com isso apoio o espírito combativo da brigada. Além disso, eu ajudo às mulheres na cozinha, ocasionalmente, descascar a batata, cozinhar, lavar os pratos. A única coisa que eu não gosto é lavar o chão e as corrimãos na sede.

Os terroristas lançaram o novo mito, alegadamente SBU tentou rapta-la; os veteranos russos da guerra de Afeganistão condecoraram a menina com a medalha “Para coragem e bravura”, o clube dos veteranos do FSB lhe concedeu a medalha “Pela cidadania activa e patriotismo”.
    
Único senão em toda essa história era a presença exagerada do Mozgovoy na obra da Bohdana, pois, embora oficialmente “lnr” dedica lhe “honras e lembranças”, o seu conflito aberto e muito agudo com fuhrer Plotnitski era de conhecimento geral de todos em Luhansk.  

Os voluntários russos foram os primeiros que investigaram a personagem de Bohdana à fundo, chegando à conclusão que a menina é uma falsidade em toda a linha.

Após a visita dos psicólogos (da “lnr” e em Luhansk), descobriu-se que a menina não escrevia a “sua” poesia. Os testes psicológicos realizados constataram o subdesenvolvimento da criança. Bogdana não sabe declinar as frases, não conhece as regras de pontuação, não consegue recontar o texto, e assim por diante.
Como contou em vídeo a colaborante dos terroristas, a cidadã russa Olga Zakhran, Bogdana foi incapaz de explicar o significado do quadro “Gralhas vieram”, a única coisa que conseguia dizer neste caso era: “isso é...”, “isso é....”, “isso é...”. A mesma Olga conta que agora os psicólogos terão que trabalhar com Bohdana durante anos (!) para que a menina pudesse voltar à normalidade. Para já, o seu pai Roman e avó Larissa (presumível autora da “poesia de combate” atribuída à Bohdana), foram proibidos pelas terroristas de dar quaisquer entrevistas ou aparecerem com a menina em público. A “lnr” fez saber à família que a violação dessa ordem não será tolerada e a família será vigiada de perto pelos órgãos da tutela dos menores da dita “lnr”.
O quadro "Gralhas vieram" do russo Alexei Savrasov
Além disso, soube-se que Bohdana tinha abandonado a sua escola, onde recebia notas baixas e que toda a família Nesheret (pai e avó separatistas) não trabalhava, usando a criança de 9 anos para angariar as doações russas em forma de dinheiro e de géneros (!).

Ao pedido do membro do Conselho Coordenador do FSB, o Major-general Velichko V. N., a atribuição da sua medalha foi oficialmente cancelada, na versão dos veteranos do FSB está foi feita, supostamente, por engano:
A história da menina heróica da novaróssia terminou oficialmente e sem nenhuma glória. A comunidade voluntária internacional InformNapalm, deseja à Bohdana apenas que cresça como uma pessoa normal, porque os adultos que a cercaram na dita “lnr” não conseguiram o mesmo.

Blogueiro: além de um claro conflito entre fuhrer Plotnitski e os apoiantes do Mozgovoy, que transformou Bohdana em um “ativo descartável”, aqui existe o conflito não menos dramático em torno da “ajuda humanitária” russa. A família da menina e em um grau muito maior, aqueles que usavam a sua imagem na Rússia, recebiam a ajuda para distribuir entre os seus. Algo que Plotnitski não poderia permitir. Pois, numa região absolutamente dependente dos subsídios estatais ainda antes do início da guerra russo-ucraniana, quem controla ajuda humanitária é o rei e senhor do seu bairro. Como tal, ajuda humanitária é a razão e o motivo quer dos assassinatos, quer de eliminação dos concorrentes e dos seus ativos. Mesmo se estes ativos sejam as meninas de 9 ou 10 anos de idade...    

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