domingo, abril 10, 2016

Os crimes russos da guerra no leste da Ucrânia (3)

O pastor Oleksandr Khomchenko após as torturas russo-terroristas
No último dia 4 de abril três cidadãos ucranianos foram à Bruxelas para contar sobre abusos, tortura e humilhações que eles foram alvos no seu cativeiro terrorista na Ucrânia ou durante a prisão ilegal na Rússia. O seu depoimento contará para auscultação prévia do Tribunal Penal Internacional de Haia.  
A ativista ucraniana de Yasynuvata, Iryna Dovhan (foto em cima), foi raptada pelos terroristas e amarrada à um poste elétrico no centro de Donetsk, onde foi agredida, insultada e humilhada pelos separatistas. Estudante ucraniano, Yuriy Yatsenko, passou um ano na cadeia russa, falsamente acusado de ser portador de 41 (!) gramas de pólvora de caça. O pastor protestante Oleksandr Khomchenko (na primeira foto) foi severamente espancado e submetido às torturas apenas por rezar publicamente pela Ucrânia no centro de Donetsk.
Oleksandr, Yuri e Iryna nas vésperas da sua ida à Bruxelas
O nosso blogue já escreveu sobre a iniciativa da deputada do parlamento polaco, Małgorzata Gosiewska em produzir o relatório dedicado aos crimes da guerra russos, cometidos no leste da Ucrânia contra os civis e militares ucranianos (ler AQUI e AQUI). Todos estes depoimentos poderão contribuir, através dos casos concretos, para que os grupos separatistas, conhecidos pelas siglas de “dnr” e “lnr” sejam considerados as organizações terroristas, patrocinadas pela federação russa.

Maratona de orações

Na primavera de 2014, no centro de Donetsk, na praça de Constituição, o pastor evangélico ucraniano, Oleksandr Khomchenko, ancião da igreja “Palavra da Vida” (http://wolua.org/en), colocou uma tenda e convidando os representantes de todas as confissões religiosas, começou as orações diárias pela paz. Apenas a Igreja Ortodoxa Ucraniana – Patriarcado de Moscovo estava ausente. No início, as orações reuniam até 300 pessoas, mas com o tempo, o número dos terroristas na cidade aumentava e as pessoas deixavam de aparecer, amedrontados. Na altura, era possível ser assassinado apenas por ostentar na sua roupa a fita com as cores da bandeira ucraniana. Em julho de 2014 a tenda foi 4 vezes atacada pelos terroristas do bando separatista “Oplot”, e pelos ex-polícias “Berkut” que passaram para o lado dos terroristas. A explicação que se orava pela Ucrânia e todos os seus cidadãos, não ajudava. Os padres das outras igrejas já não vinham, uns foram ameaçados com o fuzilamento, outros, eles próprios tiveram o medo. No total, a maratona durou 158 dias...
Oleksandr em 2014 durante as orações pela paz na Ucrânia, cidade de Donetsk
De dia, Oleksandr transportada fora de Donetsk, para Ucrânia livre, as famílias com as crianças pequenas ou doentes. Uns com ajuda de autocarros, outros, com as crianças deficientes, na sua própria viatura.

Nas masmorras do “NKVD”

Oleksandr foi preso em 4 de agosto de 2014, quando veio à oração, após retirar da cidade mais uma família. [Os terroristas disseram]: “Somos da inteligência do exército ortodoxo. Você está preso”. A permissão emitida pelo Município foi rasgada pelos terroristas e Oleksandr e uma das suas paroquianas foram levados à sede provincial da polícia [em poder dos terroristas]. A acusação foi: “Vocês não têm o crucifixo. Que tipo de ortodoxos são vocês?” A paroquiana mostrou o seu crucifixo e acabou por ser libertada, o pastor e o seu ajudante Valério foram levados à cidade de Makeevka. Num dos momentos, Oleksandr achou que estava à sonhar, quando viu a escrita no edifício: “NKVD”. 
  
Oleksander foi espancado, torturado, amarrado com as suas mãos atrás das costas, pendurado numa espécie de patíbulo. Num dos quartos deste “NKVD” ele viu um conjunto completo de ferramentas para a tortura. “Lembrei-me de tudo o que eu tinha lido sobre a Inquisição”, – conta o pastor. Após encontrar nos seus bolsos as senhas de gasolina e percebendo que a matrícula do seu carro é de Dnipropetrovsk, os terroristas o acusaram de trabalhar para o industrial Igor Kolomoisky, tentando arrancar a informação para quem pastor trabalhava e à quem relatava as suas atividades...

O bandido que o torturou em Donetsk contou que vinha de Belgorod (Rússia) para combater o dito fascismo. Oleksandr conta que mais uma vez ficou perplexo, pois pela ortodoxia lutava o terrorista com alcunha de “Bes” (Demónio), contra o fascismo lutava um tal de “Abwehr”.

Três fuzilamentos em quatro dias

Em quatro dias de cativeiro, Oleksandr foi três vezes levado ao fuzilamento. Na primeira vez a rajada passou por cima da cabeça, embora o pastor conta que estava preparado para morrer. No primeiro dia do cativeiro ele via e ouvia como matavam os ucranianos: alguém foi morto com a espingarda automática, outro foi alvo do “teste” do morteiro. Uma pessoa foi colocada de joelhos e levou a bala na nuca. Pela segunda vez pastor foi levado ao fuzilamento em Makeevka, colocado na berma do buraco cheio de corpos dos prisioneiros fuzilados. “Após a guerra, iremos encontrar muitas valas comuns deste tipo”, – diz Oleksandr e conta que após se confessar instantaneamente, disse às canalhas que estavam à sua frente: «Obrigado, vós, meus amigos. Eu sei à onde vou, o vosso caminho é o lugar nenhum». Mais uma vez os terroristas dispararam ao lado…

A vida após o cativeiro

Oleksandr não sabe porque não morreu, pensa que talvez o chefe da “contra inteligência” dos terroristas teve medo da repercussão do caso. Os crentes da sua igreja estavam na porta do “NKVD”, orando em voz alta e o pastor lhes foi entregue. Na condição de não voltar ao Donetsk, pois ele foi colocado na lista daqueles que seriam fuzilados. As pessoas que ficaram em Donetsk, contam que, de todos os que o torturavam, hoje nenhum está vivo.   

Após o cativeiro, Oleksandr foi à cidade de Mariupol, onde por ele esperavam os seus estudantes, a filha com os netos e o genro. Embora recebeu as propostas de servir a igreja em Kyiv ou Odessa, para já ficou em Mykolaiv, na companhia de um dos seus melhores amigos. Vive em um quartinho junto à igreja. Fica contente com pouca coisa. Considera como a sua missão principal as visitas à zona da Operação Antiterrorista, para salvar as almas dos jovens militares ucranianos. Quando estes lhe fazem as perguntas pouco religiosas, por exemplo, sobre o significado da guerra, lhes explica: “não confundem o país e o Estado; o Governo e o povo”.

Para Bruxelas pastor Oleksandr levou os desenhos infantis e as imagens do seu Maydan de oração de Donetsk, o mesmo que sobreviveu por 158 dias.  

Ler o texto integral (em russo):

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