terça-feira, outubro 13, 2015

A URSS e o terrorismo internacional

Hoje em dia, quando o terrorismo internacional está em ofensiva contra a civilização, é interessante conhecer os mecanismos que os governos socialistas usavam no passado para criar as sinergias na luta de classe contra o “capitalismo opressor”.

Wadie Haddad (1927 – 1978) era um dos líderes mais esquerdistas das organizações palestinianas, o comandante da ala militar do Frente Popular de Libertação de Palestina (FPLP). De acordo com arquivo Mitrokhin, desde 1968 Haddad era agente do KGB, alcunha “Nacionalista”, recebendo da União Soviética as armas, explosivos e financiamento. O que coincide com os anos da sua maior atividade terrorista ao nível internacional. Entre 1968 e 1976 Haddad foi responsável pelo sequestro dos 6 aviões civis e pelo massacre dos passageiros no Aeroporto de Lod em Tel Aviv.

Em 23 de Outubro de 1974, o chefe do KGB, Yuri Andropov, informa o chefe do Comité Central do PCUS e líder da URSS, Leonid Brejnev, sobre os contactos, desde 1968 com o membro do Bureau Político da FPLP, chefe do departamento das operações externas, Wadie Haddad.

Num encontro com residente do KGB no Líbano, à decorrer em abril de 1974, Haddad explicou a perspetiva do programa da sua organização, que pode ser sintetizada de seguinte maneira:
- O aumento da eficiência da luta contra Israel, sionismo e imperialismo americano;
- ações contra pessoal americano e israelita nos (territórios) dos terceiros países;
- ações de sabotagem e terrorismo no território de Israel;
- organização de ações de sabotagem contra o cartel diamantífero;
FPLP se preparava para atacar os grandes depósitos de petróleo nos diversos países do globo (Arábia Saudita, Golfo Pérsico, Hong-Kong, etc); destruição dos navios petroleiros e superpetroleiros; ações contra os representantes americanos e israelitas no Irão, Grécia, Etiópia, Quénia, ataque contra o centro diamantífero em Tel Aviv.

Para conseguir os seus objetivos, Haddad pediu a URSS lhe conceder “alguns tipos de meios técnicos especiais, necessários para condução de algumas operações de sabotagem”. Andropov assegura o Brejnev que “tipo de relações com Haddad permite ao (KGB / URSS), em certo grau, controlar as ações do departamento das operações externas da FPLP, exercer a influência favorável à União Soviética e também, efetuar, nos interesses do (KGB / URSS), as operações ativas, usando as forças da FPLP e seguindo a conspiração necessária”. No fim da carta, Andropov diz que “acha conveniente tratar o pedido do Haddad de forma positiva na questão de concessão dos meios especiais pedidos” (Andropov ao Brejnev, 23/10/1974, http://bukovsky-archives.net/pdfs/terr-wd/plo75a.pdf).

Com a permissão do CC do PCUS № 147/42 de 14 de agosto de 1974, em setembro de 1975, Wadie Haddad visitou Moscovo ilegalmente (não oficialmente).

Em resultado da pressão política da URSS, Haddad “chegou à conclusão sobre a necessidade de levar o grosso modo das suas operações dos países terceiros ao território de Israel e os territórios palestinianos”, prometendo aos dirigentes soviéticos de se “abster da condução das ações terroristas não inteligentes e irracionais”. Por sua vez, Haddad pediu à URSS “lhe conceder ajuda na obtenção de alguns tipos de meios técnico-militares e a sua fabricação dos componentes estrangeiros” (não soviéticos). O KGB propõe ao CC do PCUS à satisfez parcialmente o pedido do Haddad, concedendo lhe ilegalmente os meios técnico-militares soviéticos e também “alguns tipos de armamentos e meios especiais, fabricados (pelo KGB / URSS) à partir dos componentes estrangeiros”. (Andropov ao CC do PCUS, 10/01/1975, http://bukovsky-archives.net/pdfs/terr-wd/plo75c.pdf).

Na sequência da cooperação proveitosa entre o terrorista internacional e as altas lideranças da URSS, em agosto de 1974, Aleksey Kossygin. o chefe do Conselho dos Ministros da URSS, ordenou ao Banco Estatal de URSS a entrega ao KGB de 37.625 rublos em forma de divisas estrangeiras (cerca de 22.198 USD ao câmbio oficial soviético da época), para a condução das operações especiais, valor coberto pelo fundo de reserva do Conselho dos Ministros da URSS (http://bukovsky-archives.net/pdfs/terr-wd/plo75b.pdf).

Em maio de 1975, o KGB da URSS, de acordo com a decisão do CC do PCUS, entregou ao Haddad armamento e munições de fabrico estrangeiro (não soviético): 53 espingardas de assalto; 50 pistolas; entre as quais 10 com silenciadores e 34.000 munições A entrega decorreu na baia de Aden, no período noturno, de forma conspirativa e sem o contato direto, com auxílio do navio da armada soviética. Dentro do FPLP apenas Haddad sabia que o armamento foi dornecido pela URSS (a carta do chefe do KGB Andropov ao chefe do CC do PCUS, Leinid Brejnev, de 16 de maio de 1975, http://bukovsky-archives.net/pdfs/terr-wd/plo75d.pdf).

Haddad morreu em 1978, na RDA, supostamente de leucemia. De acordo com o livro “Striking Back”, publicado pelo jornalista Aaron J. Klein in 2006, Haddad foi eliminado pelo Mossad, que lhe enviou o chocolate belga tratado com um veneno indetectável de ação lenta.

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