quarta-feira, junho 24, 2015

Maydan elétrico da Arménia

Desde o dia 19 de junho, os arménios, principalmente os moradores na capital Yerevan, protestam contra o aumento das tarifas de electricidade. Após a primeira carga policial com auxílio dos canhões de água e detenção de quase 240 ativistas, os manifestantes cortaram a avenida Bagramyan e passaram aos slogans contra a corrupção e contra a ocupação russa.
A avenida Bagramyan, o palco dos protestos é fortemente cercada pela polícia arménia, mas de momento, os polícias não atacam os manifestantes, que por sua vez, desde manha do dia 24, começaram usam em massa os caixotes de lixo para erguer as suas barricadas.
Tudo começou quando a Comissão Estatal de regulamento dos serviços sociais da Arménia anunciou, no dia 17 de junho, o aumento de 15% da tarifa de eletricidade à partir de 1 de agosto de 2015. A sua decisão foi justificada pela oscilação do câmbio da moeda nacional.
Desde o dia 19 de junho em Yerevan começaram as ações contra a subida das tarifas energéticas, organizadas pelo movimento cívico “Não ao roubo”, composto pela juventude apartidária, como assegurou um dos seus membros, Aram Manukyan.  
Na manha do dia 23 de junho a polícia arménia optou pelo uso da força para dispersar os manifestantes, 237 pessoas foram detidos (e logo libertados). A polícia reportou 11 agentes feridos e Ministério da Saúde informou que atendeu 25 civis feridos.
No entanto, após o uso da força, os manifestantes voltaram à avenida Bagramyan, a cortando e erguendo as barricadas. A proposta do encontro com o presidente arménio, Serj Sargsyan, foi, para já, descartada, pois os ativistas não chegaram ao consenso sobre a personalidade que os deverá representar.
Apesar de toda a contestação social, a Comissão Estatal de regulamento dos serviços sociais da Arménia já anunciou que não pretende mudar a sua decisão, informou a sua porta-voz, Mariam Stepanyan, informa News.mail.ru.

Ver os protestos de Yerevan ao vivo no canal especial do YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ap8g-wnzJ8g
As origens do problema

Nos últimos 10 anos, a empresa “Redes de eletricidade da Arménia” (ENA), pertencente ao gigante russo RAO EES aumentou os preços de eletricidade em 200%. Recentemente, a ENA solicitou a permissão da Comissão estatal para aumentar os preços em 40%, mas conseguiu a autorização de aumento em “apenas” 15%. Tendo em conta que o preço de electicidade na Arménia é mais alto de todo o espaço pós-soviético e tendo em conta que o país produz a energia em excesso, usando para isso uma estação nuclear e algumas estações hidroelétricas potentes. No entanto, à título de exemplo, o preço de eletricidade da vizinha Geórgia é dois vezes menor.

Ao mesmo tempo, a ENA apresenta as dividas bastante altas, que contrastam com o estilo de vida “burguês” dos seus dirigentes: salário mensal de cerca de 60.000 dólares do Diretor-geral, aluguer das vivendas e viaturas de luxo aos dirigentes menores.

Tudo isso faz com que os manifestantes exigem a investigação independente da contabilidade da ENA, mudanças na gestão da empresa e abertura da sua falência técnica. Em resposta, ENA ameaça com o não fornecimento da energia aos consumidores aos preços atuais ou então com aumentos dos preços anualmente, até chegar aos 40% por si pretendidos de início, escreve a blogueira arménia Sofia Agapyan.

Blogueiro

É de notar que os protestos na Arménia receberam o apoio massificado da sociedade e da blogosfera da Ucrânia e o repúdio, também massificado, dos russos.

A tónica do apoio ucraniano pode ser resumida na frase de página Nosso Kyiv: “Aguentem, irmãos. Apenas a primeira noite assusta”. Há também quem brinca som a situação, aconselhando às autoridades da Arménia: “em vez de passar pela sucessão: a violência policial – montagem das tendas – assassinatos da pessoas; aconselhamos-vos logo fugir para a cidade de Rostov”, burgo do ex-presidente ucraniano, Yanukovych. Os ucranianos também pedem à não esquecer que o primeiro herói da Centena Celestial, vítima mortal dos atiradores as forças governamentais em Kyiv, na Maydan ucraniano, foi o arménio étnico, Serhiy Nihoyan.

Já a tónica russa é a habitual salada russa entre Obama, traição, a mão dos americanos e do Departamento do Estado, nada original ou novo.

A história repete-se

Em 27 de outubro de 1999 o parlamento da Arménia foi invadido por um grupo de militantes armados com espingardas automáticas AK. Eles abriram fogo contra os membros do governo do país, matando o primeiro-ministro, chefe do parlamento, dois dos vice-chefes, um ministro e três deputados. No total, morreram 8 pessoas.

Os atacantes foram liderados pelo ax-jornalista e ativista social Nairi Hunanyan, que justificou a sua ação pelo desejo de “salvar Arménia do desaparecimento”. Ele e mais 4 atacantes foram condenados às 8 penas de prisão perpétua, mais uma pessoa recebeu a pena de 14 anos. Ninguém sabe os reais motivos ou os mandantes do crime, os rumores apontavam como o real mandante o 2º presidente arménio, na altura em funções, Robert Kocharyan, que, dessa maneira, alegadamente, se livrou dos seus adversários políticos...
https://www.youtube.com/watch?v=oT_yG4P4a88

Sem comentários: