quinta-feira, dezembro 18, 2014

Belarus ou Bielorússia, a ditadura que resiste

O jornalista português João de Almeida Dias escreveu uma série de reportagens sobre a Belarus, liderada com os punhos de ferro pelo Alexander Lukashenka, o último ditador da Europa, expressão cunhada em 2006 pela Secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice. Já os seus apoiantes caraterizam batska (paisão) como um homem justo e um líder carismático, o único que foi capaz de unir o país. No meio, é o facto: Lukachenka é o líder europeu que está há mais tempo no poder, precisamente 20 anos.

Poderes ditatoriais

Em 1996 (Lukashenka) lançou um referendo com sete questões que o tornou, legalmente, um ditador. O sistema político passou a ser divido em duas câmaras: o Palácio dos Representantes (a mais baixa) e o Conselho da República (mais próximo de Lukashenka). Metade dos nomes de cada um destes órgãos, tal como no Tribunal Constitucional e na Comissão Eleitoral, seriam escolhidos pelo Presidente. No Tribunal Supremo e no Tribunal de Contas, a escolha passou a ser exclusiva de Lukashenka. Além do mais, todos os seus decretos teriam valor de lei, dispensando aprovação parlamentar.

[Desde cedo] tornou-se claro que [Lukashenka] tinha sede de poder. Da mesma maneira que um rapaz de 16 anos deseja intimidade com uma mulher, Lukashenka, com cada fibra do seu espírito, com cada célula do seu organismo, queria ter poder.
Alexander Feduta, jornalista e antigo ministro de Lukachenka

Aniquilamento da oposição em 19-20 de dezembro de 2010

“Depois eles atacaram.” Andrei Sannikov (candidato presidencial em 2010, os resultados oficiais atribuíram-lhe 2,56%, fazendo dele o segundo candidato mais votado. Lukashenko venceu com 79,67%) lembra-se de ver dezenas de polícias a avançar atrás de enormes escudos cinzentos, quase da altura deles, munidos de um bastão. Uma mão cheia deles correu na sua direção e pontapearam-no até ele cair. Depois, colocaram um escudo por cima do seu corpo e saltaram-lhe em cima repetidas vezes. Ao mesmo tempo, a sua esposa, Irina Ralip (a jornalista de investigação), tentava salvar o marido, que ficara inconsciente durante o ataque. Quando recuperou os sentidos, percebeu que tinha a perna partida.
https://www.youtube.com/watch?v=R2IjKa-Gi9A

Detidos no caminho à hospital pela polícia, Sannikov e Ralip, pararam nos calabouços do KGB, juntamente com cerca de 700 outros ativistas pró-democracia.

Irina Ralip esteve encarcerada durante um mês. Depois seguiram-se quase cinco meses de prisão domiciliária — durante este tempo todo, em que quase perdeu a custódia do filho de três anos, viveu com dois agentes dos serviços secretos permanentemente dentro de sua casa.

Andrei Sannikov foi condenado à cinco anos de prisão por organizar as “manifestações violentas”. Ao fim de um ano e seis meses, com a saúde em risco, foi amnistiado pelo próprio Lukashenko. Nada que o faça esquecer a tortura, a negação de cuidados médicos e as ameaças de morte que recebeu. Ameaçado na TV pelo próprio Lukashenka, após pedir publicamente a libertação de todos os presos políticos, Sannikov saiu do país. Hoje vive em Varsóvia, a capital da Polónia, enquanto a mulher e o filho continuam em Minsk.

Belarus em números

Em matérias de liberdade de imprensa, a reputada associação dos Repórteres Sem Fronteiras coloca o país em 157º lugar num total de 180. Na corrupção, a Transparency International, colocou-o em 123º entre 177 países. No Índice de Liberdade Económica, determinado pela Heritage Foundation, os números são da mesma ordem: 150º em 178 nações.

O poder da propaganda

No filme documental “Ploscha” (Kalinovski Square), de 2006, o seu realizador, Yuriy Khashchevatskiy, visita uma aldeia isolada, de onde os seus habitantes raramente saem. Não têm televisão nem telefone e a única janela que têm para o resto do mundo é o rádio. Assim que vêem uma câmara, os aldeões queixam-se das suas condições de vida. O tom é de revolta. O cineasta pergunta-lhes, então, se acham que Lukashenko é o culpado da situação deles. “Claro que não!”, respondem-lhe de imediato. “Eles no rádio dizem que todas as outras aldeias são boas, tudo o resto na Bielorrússia é perfeito. Só aqui na nossa aldeia é que vivemos na merda!”
https://www.youtube.com/watch?v=AxdcEQJJido

Ler o texto integral, 1ª parte: Quanto tempo resta ao último ditador da Europa?
http://observador.pt/especiais/quanto-tempo-resta-ao-ultimo-ditador-da-europa

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