sábado, novembro 19, 2011

A forma como morreu Gaddafi...


Francamente, fiquei surpreendido com a quantidade de pessoas, seguramente bem intencionados, que lamentaram publicamente a morte do ditador Gaddafi.

Muitos deles, que até se intitulam da gente de esquerda, escolheram as palavras pouco simpáticas para com os seus captores e alegadamente, carrascos. Mas o que eles esperavam? Que os militantes da Brigada do Sirte, que resistiram ao cerco das tropas do ditador durante 70 dias iriam o prender, lendo lhe os seus direitos constitucionais, como acontece nos filmes americanos? Mas a Líbia nem possui uma constituição formal, esta foi substituída pelo Livro Verde, assinado pelo mesmo coronel, cuja morte é tão fortemente criticada pelos pacifistas de esquerda.

A forma como morreu Gaddafi não difere em absolutamente nada da forma como todos os dias do ano são mortos centenas de milhares de pessoas em diversos cantos do 3° mundo, do Vladivostok à Joanesburgo, de Mumbai à Maputo. Assaltados, assassinados, estuprados entre as paragens do transporte colectivo e as suas pacatas casas, muitas vezes por um punhado dos randes, rublos, rupees, meticais ou um celular de 2ª mão. Mas ninguém os conta e ninguém os chama de heróis, aparentemente, em vez de resistir aos “avanços da NATO” estas pessoas trabalham de sol à sol, tentando sobreviver nos países muitos vezes comandados pelos outros ditadores e até amigos do Gaddafi, que drenam as riquezas nacionais para as suas tendas de luxo, concertos familiares privados com estrelas “ingénuas” ocidentais, MBA’s no Ocidente para os filhos e claro, a compra do armamento ocidental para a luta ferozmente de faz de conta contra Ocidente.

A forma como morreu Gaddafi é apenas uma variante cultural (e esquerda nós ensina que devemos respeitar as diferenças culturais de cada povo), da maneira como morreram Ceauşescu e Saddam, um fuzilado e outro enforcado, praticamente, pelos seus próprias guardas.

A forma como morreu Gaddafi seguramente irá nos parecer demasiadamente branda, quando milhões dos autistas actuais da Correia do Norte acordarem do seu sono profundo e apresentarão as contas à dinastia vermelha dos Kim’s pelo mais do meio século do seu atraso gratuitamente colossal, que mais parece com vários séculos, se os comparamos com os seus irmãos na vizinha Correia do Sul.

A forma como morreu Gaddafi, deve, em teoria, oferecer uma pequena demonstração grátis aos outros ditadores ainda em activo, daquilo que irá acontecer com os indivíduos que brutalizam os seus povos, acreditando que o mesmo povo os ama.

A forma como morreu Gaddafi foi absolutamente proporcionalmente digna à forma como ele viveu e como comandou os destinos do seu país durante últimos 42 anos. É hora de entender, que os próprios dirigentes escolhem a maneira como eles morrem e quem mata pelo ferro, pelo ferro morre. E as possíveis excepções só podem reforçar a regra geral.

Bónus

Aconselho ver o filme documental da autoria do jornalista do canal Aljazeera English, Imran Garda, chamado “India’s Silent War” sobre a vida quotidiana do povos indígenas Adivasi (84 milhões de pessoas), encurralado entre o estado indiano e os rebeldes maoistas na sua luta armada pela utopia totalitária.
 
Ver no YouTube:

Sem comentários: